terça-feira, 28 de dezembro de 2010

what kind of world would it be

Eu devia fazer muita coisa nesse final de ano. Organizar minha vida, nem que fosse mudar o armário, procurar algum serviço pro ano que vem, providenciar minha despedida do laboratório. Mas tudo acabou sendo atrapalhado, e não foi apenas a gripe de semana passada. Nas semanas anteriores minha avó me parou pra falar o que minha irmã estava aprontando. Ela tinha conversado com minha prima de Brasília que estava arrumando as coisas para sair de casa, e pediu que ela mantivesse segredo. Talvez tenha se esquecido com quem estava falando, pois ela contou a minha mãe antes de viajar de volta.

Dias depois minha prima 'doida' do Rio, que veio (acho que) em outubro, deixou escapar pra minha avó no telefone que estava tudo pronto pra vinda delas. Minha avó não deixou de expressar a preocupação com a minha sobrinha, com a educação que ela teria. Minha irmã tem fama adquirida de ser irresponsável e desorganizada. De fato ela não pode culpar o resto do mundo da situação que ela tinha aqui, mas não a julgo se ela quis sair daqui, uma vez que não estava se sentindo bem. Aliás, é meu pensamento desde muito tempo.

Enfim, pulando o drama infinito, como se alguém tivesse morrido, quinta-feira de manhã minha avó parou a vizinha pra dizer que elas (irmã e sobrinha) estavam guardando as coisas pra sair. A vizinha, evangélica e surpreendentemente sábia, disse a ela que criamos nossos filhos para o mundo, e que a gente deve desejar o melhor quando eles se vão. Essa foi uma facada pra toda a criação que a gente teve aqui em casa, quando não podíamos nem ficar na calçada enquanto crianças. Talvez seja a razão de toda essa revolta tardia.

Fiquei limpando o primeiro andar, ligado em cada barulho que ocorria, apesar de estar com o rádio ligado. Acontece que com todo esse clima eu esperava que, a qualquer momento, uma discussão explodisse com minha mãe pra todo mundo ouvir. Não aconteceu, e elas passaram o dia e a tarde arrumando as coisas. À noite, estou no quarto e minha irmã vem falar com minha mãe, avisando que já ia. Minha mãe então começou o monólogo engasgado desses dias, soltando argumentos furados, como se só comida e um teto garantisse um lar pra alguém. Minha irmã foi sem responder, talvez foi melhor assim.

Desde então o clima tem sido pesado por aqui. Hoje recebi um email da minha irmã dizendo que estavam bem por lá. E só hoje me caiu a ficha de que elas estavam realmente longe. Posso não ter concordado com muitas coisas que ela fez nos últimos anos, mas sem dúvida desejo muita sorte pra ela, e que ela consiga educar minha sobrinha do jeito que ela queria.

Minha motivação pra esse post nem era de contar os problemas daqui; acabei me estendendo demais. A razão foi justamente o que me deixava ainda mentalmente sadio depois de tudo. Depois de passar quase um dia sem notícias de ninguém, a resposta mais cliché ever: o que eu seria sem meus amigos. No mesmo dia da mudança, saímos e nos divertimos bastante, mesmo que estivéssemos todos tossindo e sem ânimo até pra levantar.

Pra um ano que pareceu não acabar, de tantos acontecimentos (bons e ruins), agradeço pela paciência de todos, pelos poucos momentos de resolvi compartilhar algo aleatório que me entristecia, pelos momentos que deixaram que eu ajudasse (e no final das contas, estava me ajudando também), pelas saídas, pelas fotos engraçadas, pelas pinturas de camisas, pelas primeiras noitadas da minha vida, pelas análises do povo genérico dessa cidade, pelas viagens de madrugada. Pela companhia, nem que fosse telepática.

Muito obrigado por fazer meu ano menos #fail

E aos que me distanciei nesses últimos meses, desculpa. Tenho fases que é melhor que eu fique na minha ou desconto em quem não merece. (Como se essas pessoas viessem aqui, mas vale pelo sentimento)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Top 5 6: Séries de 2010 (03-01)

3. In Treatment
Temporadas: 3 | Status: Renovação Incerta
Quem acompanha esse blog há algum tempo sabe que essa série é a minha obsessão. Trata-se da adaptação de uma série israelense, que teve duas temporadas. Portanto, muita expectativa foi posta (por mim, lógico) nessa temporada, uma vez que seria a primeira com roteiro original. Durante a espera de mais de um ano, uma notícia boa: uma das roteiristas de Tell Me You Love Me (série que já comentei por aqui) e responsável pela adaptação das personagens adolescentes das temporadas anteriores (♥) iria continuar como roteirista. Uma notícia ruim: Dianne Weist, responsável pelas melhores cenas com Gabriel Byrne, não iria continuar, e o número de pacientes iria diminuir para três. Os personagens: Sunil, professor aposentado recém chegado da Índia que sofre com a ausência da esposa, morta há seis meses. Frances, atriz famosa que tem problemas em decorar suas falas, fato ligado diretamente com o estado de saúde da irmã, que já foi tratada por Paul. Jesse, o meu favorito, jovem de 16 anos, adotado e gay, que está em terapia por ordens do colégio onde estuda. Por fim, Paul consulta sua nova terapeuta, Adele (minha favorita), que o ajuda a lidar com os problemas com o filho mais novo, as preocupações com a saúde e o relacionamento que ele construiu com Gina (Dianne Weist), sua antiga terapeuta. Não consigo colocar as três temporadas de In Treatment em comparação, até porque elas são independentes; mas essa foi a temporada que mais me surpreendeu. Além de manter os finais abertos dos personagens (pois seria forçado demais todos ficarem felizes para sempre ao mesmo tempo), essa temporada questionou o trabalho que Gina fez durante as temporadas anteriores. Gostaria muito que fosse renovada e que Adele voltasse, a dinâmica entre ela e Paul foi o momento mais tenso dessa temporada. Se está procurando por diálogos francos e personagens que poderiam ser qualquer um à sua volta de tão verídicos, essa é a série perfeita.
Melhor Episódio: 323 Jesse: Week Six

2. LOST
Temporadas: 6 | Status: Encerrada :,(
Falar em temporada difícil de descrever, eis que chega o talvez finale mais controverso do ano. Antes de essa temporada começar, eu já estava me preparando para o que os roteiristas iriam mostrar, até porque os criadores avisaram que nem todas as perguntas seriam respondidas. Confesso que até deixei de frequentar a LostPedia para não sofrer a tentação. O finale me agradou muito e LOST com certeza estará na minha lista de melhores séries que eu já vi. Poucas séries desenvolvem personagens tão complexas e humanas, e vemos no grande final a grande evolução dos mesmos em condições tão adversas. Fica difícil não se identificar com mais de um personagem e torcer que o mesmo alcance seus objetivos... bem, nada do que aconteceu no finale eu posso falar, mas saibam que foi feliz. No geral, foi bastante satisfatório acompanhar essa série que foi uma das primeiras que acompanhei pela internet (acredito que pra bastante gente também) e terminar bem planejada. Pontos baixos: a sub-utilização de Ben Linus e a irritância de Claire durante quase toda a temporada. Ponto alto: o desfecho dos personagens na "ante-sala", e não vejo melhor forma de terem desenvolvido aquilo sem ser uma loucura que muita gente entendeu errado (ou entendeu do seu jeito, essa é a coisa boa dos finais abertos). OBS e SPOILER: Para os fãs mimimi, LOST deixou de ser científica desde que deixou de focar na Dharma, isso lá pela terceira temporada.
Melhor Episódio: 617/618 The End

1. Boardwalk Empire
Temporadas: 1 | Status: Segunda Temporada Confirmada
A não-tão-surpresa da temporada. Tudo começou com a divulgação de posteres inspirados na arte dos anos 20, que sempre gostei, mostrando parte do modo de vida da Atlanic City daquela época. Pra quem não sabe, esse período foi conhecido pela proibição de venda, fabricação e transporte de bebida alcoólica nos Estados Unidos. Depois descubro que a série é criação de Terrence Winter, criador de The Sopranos, e Martin Scorsese como um dos produtores. Alguma dúvida que temos uma grande temporada pela frente? Mas ainda foi melhor do que esperei. Não era familiar ainda com o roteiro de Winter; Sopranos é uma série que devo ver em algum momento da minha vida. Porém, é um dos textos mais bem construídos e planejados que já vi. Impressionante como cada personagem tem seu destaque na trama, assim como os famosos Al Capone e Arnold Rothstein. Não bastasse uma boa história que já prende o espectador desde o primeiro episódio (dirigido por Scorsese), temos uma produção de arte impecável e detalhista, que refletiu os costumes (moda, música, etc.) das cidades onde a história passa: Atlantic City, Chicago e Nova York. Falar em impecável, temos ainda a direção, que faz questão de aproveitar tudo que a produção e os atores têm a oferecer, e fazem um espetáculo de 50 minutos que é longe de ser cansativo de se ver. Como diz o slogan da HBO, 'não é TV'; o que mais parece são filmes que demoraram alguns meses para serem feitos, sobre uma sociedade corruptível e com uma história que tem potencial para abranger momentos políticos e sociais extremamente importantes dos Estados Unidos na época.
Melhor Episódio: 105 Nights in Ballygran

Menções (aquelas temporadas que devo assistir): The Big C, Community, Modern Family, Mad Men, Skins e The Vampire Diaries.

Próximo Top: As melhores séries assistidas esse ano
Previously: Veja aqui o Top (06-04)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Top 5 6: Séries de 2010 (06-04)

Antes de começar minha lista de melhores álbuns, que é algo extremamente difícil de se fazer, decidi avaliar as melhores séries dessa temporada. Duas considerações: estou contando as temporadas exibidas nesse ano e as que eu pude ver, lógico. Mais abaixo irei listar tanto as séries que vi, e cujas temporadas foram exibidas em anos anteriores, além das séries que eu sei que devo assistir. Ah, mais uma consideração: vou tentar ao máximo não divulgar spoilers sobre as séries; os que eu eventualmente falar, fiquem relaxados, serão um grão de areia comparado ao que estarão por ver.

Antes de começar a lista, um fato engraçado: em algum momento da escrita citei LOST e... meu deus, LOST acabou esse ano!! E vamos à lista, tendo que encaixar LOST em algum lugar:

6. Caprica
Temporadas: 1 | Status: Cancelada
Trata-se de um spin-off da aclamada série Battlestar Galactica, que falarei no próximo post. Depois de fazer uma super maratona para ver as quatro temporadas de BSG, eis que me deparo com o piloto de Caprica, e foi um dos pilotos mais interessantes que já vi. Cinquenta anos antes dos eventos que marcam o início de Battlestar, nos deparamos com uma sociedade totalmente diferente da que temos hoje. Tecnologia no auge, com destaque para um dispositivo que praticamente transporta as pessoas para um mundo virtual, pleno de possibilidades e defeituoso de limites. Discussões morais e religiosas coninuam a ser abordadas (herança de BSG), mas de uma forma muito mais recorrente, além de questões sobre vida eterna, robótica e máfia. Tinha tudo pra ser um sucesso de crítica, certo? Mas o que deu errado para ser cancelada?! Abordar o monoteísmo como uma ameaça é extremamente arriscado, junte isso com muito suspense no começo, talvez os criadores pensassem que a série iria render mais temporadas; além disso, o perigo constante de cancelamento acabou enfraquecendo a audiência, a história teve que acelerar e as mudanças de horário e adiamentos da SyFy só fizeram piorar. Vi a série no início do ano e só terminei há duas semanas atrás, isso por causa do poder da internet, pois a SyFy só exibirá os cinco episódios finais no ano que vem (quanto respeito). Foi uma série com um incrível potencial e, se não se importarem de ver 18 episódios de uma das melhores séries sci-fi-outer-space já feitas, fiquem à vontade.
Melhor Episódio: 105 There Is Another Sky

5. Parenthood
Temporadas: 2 | Status: Segunda Temporada em Hiatus
Essa foi uma das grandes surpresas do ano. Após ver Six Feet Under, que falarei no post a seguir também, estava procurando séries que tivessem os atores principais. Como já estava assistindo Dexter (com Michael C. Hall), decidi ver Parenthood (com Peter Krause). Nos primeiros episódios você pensa "ah, mais uma série familiar", e com a péssima experiência que tive (nunca vou recuperar o tempo perdido assistindo poucos episódios de Seventh Heaven), já tinha um pé atrás. Porém são necessários poucos minutos para lhe tornar, desculpem o cliché, familiar. A sensação começa logo com uma cena entre Lauren Graham (desculpem, mas nunca vi Gilmore Girls e não a conhecia) e a linda Mae Whitman (de In Treatment), e assim a história se segue com elementos cômicos, levemente adicionados aos diálogos e sem nenhuma pretensão de ser total comédia, e ao mesmo tempo somando tramas complexas em que todos os personagens estão envolvidos. Mas vamos falar da segunda temporada, assisti tudo junto pois meu vício quis assim. Estaria realmente satisfeito se continuassem o mesmo ritmo da temporada anterior mas, como disse, me surpreendi. A evolução de todos os personagens é notável e encanta; até o patriarca, que era o único personagem que eu odiava (o restante do elenco eu amava de paixão) teve sua evolução. Todos continuam adoráveis até quando erram ou quando são irresponsáveis. Enfim, acabei não falando muito sobre a série, porque não os quero privar da experiência de uma série que continua provocando sorrisos e lágrimas, sem demais esforços.
Melhor episódio: 208 If This Boat Is A Rockin'

4. Dexter
Temporadas: 5 | Status: Sexta Temporada Confirmada
Falar dessa temporada é difícil. Indiscutível o fato que Dexter é uma das coisas mais interessantes na televisão atualmente; com o final de LOST (e foi aqui que lembrei que estava faltando nessa lista) são poucas as séries que realmente se destacam. Depois do traumático evento no final da temporada anterior, Dexter se vê sem chão, assim como todos à sua volta. Mas o grande desafio dessa temporada foi: como fechar um ciclo para o protagonista, que não tem grande interação com os demais personagens, e ainda assim não sub-utilizar o elenco? Foi uma tarefa difícil, e não acho que os argumentistas cumpriram bem a tarefa, principalmente na trama Angel&LaGuerta, que irritou 10 entre 10 espectadores. Mas em compensação, essa temporada incluiu um personagem diretamente ligado a Dexter (algo extremamente complicado de realizar e agradar), e que acabou contribuindo para a evolução mais bonita do personagem (Dexter) desde a terceira temporada. Querendo ou não, não dá pra continuar uma série com um protagonista que é praticamente o mesmo desde o piloto, e eu não gostaria que isso acontecesse com "Dexter". Foi uma evolução natural e necessária após todo o acontecido na temporada anterior, o que me reforça a confiança nos roteiristas desde sempre.
Melhor Episódio: 509 Teenage Wasteland

to be continued

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

the most pitiful month of the year

É, cheguei a uma conclusão tardia que dezembro não presta; pode continuar existindo, mas pelo menos passe muito rápido. Aliás, todo esse clima de confraternização e alegria, divulgada à exaustão nas propagandas e programas de TV não fazem muito efeito quando se vive num lar desestruturado; e quando se está sozinho (mais como um estado emocional). Acho que eles não vendem necessariamente confraternização, ou perdão, mas celebração, compra, consumo.

Papo pseudo-socialista de lado, é assim que venho me sentindo nas últimas semanas. Estranhamente, nos dias que me senti menos outsider, quando as pessoas pareciam estar mais simpáticas, era quando eu me sentia mais só, no dia seguinte. O último show que fui foi realmente o dia mais divertido de muito muito tempo, porém os dias seguintes foram os piores dias-de-vaca já registrados. Daí me lembro de um episódio de In Treatment, em que Paul pergunta "e o que aconteceu entre aquele momento e este?" e a personagem diz: "eu cheguei em casa". Minha mente acha as referências mais cruéis, mas confesso que está certa.

Primeiro que minha mãe optou por falar o mínimo possível comigo desde que cheguei tarde (antes das 0h) em casa e liguei pra ela, pois tinha esquecido de levar a chave. Eu sabia que ela não estava dormindo, porque havia visita na casa dos vizinhos e eles sempre conversam alto até altas horas. Ao menos estava livre dessa (enorme ¬¬) culpa. Mas da culpa do show eu não estava livre, pois cometi as três grandes irresponsabilidades da minha vida:

- ter saído e não avisado a que horas iria voltar (porque ela não consegue confiar em mim e pensar que estou seguro, e por isso não consegue dormir enquanto não chego - e que não é inteira culpa minha, convenhamos)
- não ter ido ajudar meu avô na feira (e que ele nem faz muita questão), cuja grande ajuda que faço é ficar no carro e evitar que alguém leve o rádio. Se alguém o fizesse, seria pura coincidência
- ter dormido a manhã inteira e não ter feito a faxina na parte de trás da casa. Assim que acordo, ela passa pela porta (entrada, na verdade, porque _orra de porta não existe), olha pra mim com aquela cara de decepção, respira fundo e volta. Mal consigo viver com uma culpa dessa nas minhas costas, né?!

O climão já não estava muito bom pra Mariana e Paloma também, então a gente resolveu sair pra fazer qualquer coisa (resolver sair pra algum lugar é algo novo para nós). Emprestei o box de Six Feet Under pra Paloma e fomos ao Subway (nota: que sanduíche bom!) analisar nossos dramas, ao som do DVD de Shakira. A conclusão do dia foi que as pessoas eram complicadas em vários níveis de loucura diferentes, mas a gente arruma os casos mais extremos por pura sorte ¬¬.

Mostrei a mensagem que pnp me mandou no dia que fez um ano que começamos a namorar, ainda esperando alguma coisa depois de tanto tempo. Discutimos então como as pessoas tendem a viver com uma percepção totalmente deturpada das coisas, dorgas fortes mesmo. Apesar de já convencido, Mariana disse que admirava (não lembro se com essas palavras) minha atitude de acabar com o relacionamento, uma vez que ia entrar num ciclo de auto-destruição triste, e para ambos os lados.

Disso não tenho mais dúvidas, e de também não sentir mais nada por ele, mas o que mais me irrita é essa falta de noção dele que me assombra. Quase um clone do ghost (logo quando o original está melhor), mas sem a presença física e indesejável. Falar em ghost, enquanto estávamos conversando sobre o assunto, como num timing absurdo ele manda outra mensagem, dizendo que está com saudades e que me ama e etc. Meu, SUMA!!! ¬¬'

Depois de desabafar, o domingo poderia ter sido melhor. Mas não, domingo tem que ser podre!
Acordei com dores no pescoço e nas costas, mal conseguia olhar pro lado; decido então fazer a faxina no dia seguinte. Passo o dia lendo no terraço e vejo o coroa do cachorro (minha mais nova obsessão) discutindo feio com uma mulher super-dramática que mora aqui perto; a discussão foi por causa do pobre do cachorro, e foi feia! Depois disso, não acho que ele deve passar mais por essa rua, desfilando seu charme. Não, esse não é o grande problema da minha vida, mas de longe era a parte mais legal-estranha do domingo.

Minutos depois, canso de ler e fico no portão, olhando a rua deserta e pensando na vida. Não consigo não pensar que, apesar dos meus esforços óbvios de infância de não causar problemas (e que continuaram até hoje), sinto que não sou valorizado por isso. Tudo bem que entendo todos os estresses da minha mãe, falo isso de verdade, entendo todos; mas daí a exigir nas entrelinhas que eu não saia e não tenha vida social já é demais. Porém minha mente dramática apenas pensa que se estivesse numa delegacia, ou vivesse drogado e roubando (casos que a vizinhança fofoqueira sempre sabe), talvez dessem valor.

Com a vaca manifestando logo cedo, minha sobrinha aparece e senta do meu lado. Ela tem essa necessidade de quebrar o silêncio mas de um jeito divertido, pois ela conta coisas de infância que te fazem lembrar inevitavelmente da própria infância. Isso até ela falar sobre Justin Bieber e Tokio Hotel. Enfim, durante os últimos meses a gente tinha ficado distante (apesar de vivermos na mesma casa) com toda a pressa da graduação e formatura, e fazia tempo que não tínhamos um quality time.

Começou a ficar quente demais e a chamei pra ver Shaun the Sheep. Minha mãe chega, nos vê no computador e começa um show, afastando os móveis do lugar com rispidez, dizendo que a casa estava sendo comida pela poeira. "Eu tinha deixado pra limpar amanhã, meu pescoço está doendo" "E eu tô boazinha aqui, né?" "E isso não pode esperar?!" "Não, eu tô boa, pode deixar". Minha tia chega e fica fazendo perguntas sem-noção, ela responde, para todos escutarem, e que faz tudo nessa casa etc.

Perco a fome e fico no terraço, onde não dá para escutar, mas em compensação algum carro de som estava perto tocando algumas músicas bregas. Estou quase explodindo e começa a tocar uma música dos Pholhas, que me lembra infância também. "Não, essa música não!", começo a chorar enquanto todos os problemas parecem se concentrar ao mesmo tempo. Rejeição, solidão, a perspectiva de que não conseguirei amar alguém que não seja pirado, a perspectiva de pensarem que estou cometendo um pecado imperdoável e irei direto ao inferno (bem, eu não acredito nisso, mas é o que penso enquanto minha mãe vê o programa de Silas Malafaia antes de ir trabalhar).

Deplorável, e não estava preocupado se os vizinhos perceberiam, nem quando meu primo apareceu do nada. Minha avó vem duas vezes perguntar se eu iria almoçar. Passei a tarde inteira dormindo na casa da frente, no menor sofá (até nisso eu penso pra não atrapalhar ninguém, what's my problem?!?!?!). Dias passam, o clima continua e minha avó me pede pra considerar, o que no final das contas estou fazendo, esse é apenas um, talvez o menor dos problemas que passam na minha cabeça. Too much to deal with.

Acabou sendo um post muito grande, e agradeço pela paciência de quem chegou até aqui. Foi tão chato de escrever quanto foi pra ler; odeio recorrer a esses assuntos novamente, mas foi o jeito. Ou explodir com qualquer coitado que ainda se importa.

:/

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

time changes everything

Todos estamos familiares com a idéia de ter grandes amigos em certo momento da vida, geralmente no colégio, e o tempo e as circunstâncias irem afastando aos poucos, certo? Não há muito o que fazer, você não perdeu a consideração com a determinada pessoa, ou deixou de gostar dela, mas seus afazeres e seu ciclo social é (inevitavelmente) outro; não tão de repente seus pensamentos mudaram (ao menos que você tenha uma queda geminiana), assim como os do antigo amigo, de modo que de restante há poucos pontos em comum. Life's a bitch, huh?

Foi assim com uma grande amiga do primeiro ano. Andávamos grudados o ano inteiro, no ano seguinte trocávamos cartas várias vezes por semana, dividindo nossas frustrações e depressão. No terceiro ano, perdemos nossa informante e nos vimos apenas umas três vezes durante o ano, apesar de estudarmos na mesma cidade. Não estou questionando nossa amizade, e não farei isso; nem deixo de desejar o melhor pra ela, e tenho certeza que é recíproco. É apenas um fato, além de naquele cansativo ano termos vestibular e minha casa estar uma bagunça emocional.

Lembro que ela foi a primeira pessoa com quem eu dividi sobre minha orientação, numa ligação chorosa, em que achei que ela ia ter um ataque de raiva (adolescentes melodramáticos). Apesar disso e de contar naquela época quais eram minhas paixonites, eu nunca tive liberdade com ela pra falar livremente sobre o caso, como eu tenho com B e Mariana atualmente. Nas poucas vezes que nos encontramos, sempre havia companhia de gente desconhecida por mim, o que não é bom para alguém em processo de aceitação.

Ás vezes penso que nossos amigos refletem, ou imprimem, algo de nós; e, em certas ocasiões, dificilmente muda. Ao reencontrá-la depois de tanto tempo, eu me lembrava do que era anos atrás, pois foi essa versão minha a que ela estava acostumada, era dessa versão que ela gostava. Claro que não penso em agir do jeito estranho de antes, mas é involuntário. Mas voltarei a essa questão depois.

A última vez que a vi foi no início do ano passado, quando ela precisou de mim pra dar um depoimento anônimo num trabalho sobre homossexualidade (devo ter postado por aqui). Enfim, foi uma situação constrangedora e me expus a gente que mal conhecia. Felizmente, os acontecimentos daquele ano me deixaram mais seguro quanto a isso. Essa é a parte que a vida (or whatever it is) faz com que você mude.

Quase dois anos depois, essa amiga reaparece. Você descobre que ela agora é dona de uma loja e está casada(!), histórias contadas na mais estranha familiaridade. "isso eh um bofh sem tempo. vc ta muito mudado eim!". Vamos pular a parte que não sabemos se é uma crítica ou elogio, apenas contemplemos a estranheza da situação: vocês vivem em mundos separados e uma diferença de quase dois anos mata qualquer tentativa de intimidade. Não quero ser falso, nem ser "uma pessoa mudada" ao mesmo tempo. Você tem carinho por uma pessoa, mas nã tem mais idéia de quem ela é.

Esses dilemas que só existem na minha cabeça. (?)