terça-feira, 25 de janeiro de 2011

inutilidades de verão I

Meu dia-a-dia não tem sido muito emocionante esses dias. Depois que finalmente melhorei da mega gripe que tive, e que me fez perder de ir a Natal para a despedida de ghost, venho passando praticamente o dia todo em casa; até porque atrações nessa cidade estão escassas. A convivência por aqui está até suportável, minha mãe está estranha desde que minha irmã e sobrinha foram embora. Estranha num sentido de não estar estressada, querendo discussão toda semana. Nem questionou quando disse, meio em cima da hora, que ia pro show de Amy Winehouse.

Antes da viagem, passei um sábado na casa de Mariana, com toda a turma (Juliana, o namorado dela, Byra e Paloma) vendo filmes. O bom dessas sessões é que sempre eu tenho um ataque de riso com alguma tolice. Estávamos vendo Somewhere e em uma cena Elle Fanning está preparando alguma comida. Mariana disse que era Kitut com inhame, e o pior que parecia mesmo!! Comecei a tremer no colchão, quando Elle derrama algum molho no prato, Mariana diz que é o Sopão da Xuxa. Gargalhadas infinitas, pausamos o filme. Elle corta alguma erva na comida, digo que é papel crepom! Mais gargalhadas.

A viagem então. Saímos -eu, Byra, Mariana e Paloma- sem um itinerário certo e sem idéia do que iríamos gastar. Chegamos em Recife no horário do almoço, fomos ao shopping e passamos a tarde inteira lá. Namorei vários itens da Saraiva de lá, em especial a coleção Peanuts completa e as últimas temporadas de Six Feet Under. Me contentei, mas um dia volto lá e levo tudo (sonhos). Por volta das 18h fomos à fila, muita gente passação, algumas pessoas aparentemente legais e uma moça de short, camiseta de praia e crocs #dead. Já na espera estávamos com as pernas doendo de ficar em pé, mas pelo visto ficaríamos na frente e isso valeria a pena.

Algumas horas depois, entramos e peguei um whisky, que ou estava muito ruim ou me acostumei mal com tanta caipirinha. A primeira música que ouvi foi "I just want to celebrate", que aparece na series finale de Six Feet Under; não era um sinal, mas animou. Logo no primeiro show, de Mayer Hawthorne, um rapaz do meu lado tira a camisa e ficou espalhando e roçando sua lama em cima de mim; e isso era só o começo. Mayer mandou muito bem, interagiu bastante com o público que mal o conhecia. Misturou num setlist músicas extremamente dançantes (se eu tivesse espaço, tirava Paloma pra dançar) com baladinhas de baile de debutantes, que não é necessariamente ruim, mas também não é muito animador para um concerto. No geral, a interação dele balanceou essa baixa.

Entre shows, ficamos eu e Byra não aguentando mais a propaganda da Burn com uma modelo passando mal na balada e se achando sexy e cool. Além do anúncio do show de Jason Mraz, e ficamos imaginando a quantidade de pessoas que só iriam pseudar por "I'm Yours".

Logo depois, o show mais aguardado por mim desde o anúncio do festival: Janelle Monáe. A descobri no meio do ano passado e foi crescendo e se tornando minha obsessão do último ano. A setlist não foi uma surpresa, já havia visto a de Porto Alegre e tinha me preparado psicologicamente. Talvez por causa do tempo, ela não cantou "Oh, Maker", uma das minhas preferidas do álbum, mas cada minuto do show valeu a pena.

O combo inicial, começando pela introdução do mestre de cerimônias, a história futurista contada por Janelle no telão (Suite II Overture), personagens em neon tribal (Dance or Die), luzes aceleradas da cidade (Faster) e cenas do clássico Metropolis de 1927 (Locked Inside) foi simplesmente matador e levantou todos do lugar. Foi assim também com o combo final, Cold War/Tightrope, as músicas mais conhecidas. Mas o que me impressionou foi "Sincerely, Jane", que nunca foi minha preferida do primeiro trabalho, mas sua performance quase teatral me deixou boquiaberto. are we really living or just walking dead now? are we walking dead now?

Outra sessão de modelo passando mal e "I'm Yours" depois, e pessoal que veio de não-sei-onde querendo empurrar tudo pra ficar na frente, finalmente o momento da noite. Confesso que não estava esperando muito desse show; quase nada na verdade. Grande parte pela figura que fazem questão de fazer de Amy: instável, louca, agressiva. Além disso, as críticas dos shows anteriores não tinham sido muito boas.

Tudo caiu por terra logo na primeira canção, "Just Friends", quando ela ensaiou uma dança esquisita e sorriu. Ao mesmo tempo um pensamento me tomou: e se ela fosse alguém que só quer se divertir, sabe-se lá se ela foi reprimida em algum momento da vida?! Nunca vi a situação de ter sua vida monitorada e julgada por todos muito feliz, mesmo quem se satisfaz com tantos holofotes deve ter algum problema. Se ela quer beber às tampas numa festa, teoricamente não é problema de ninguém; mas infelizmente ela é famosa e suas inconsequências (por assim dizer) é aproveitada de forma maldosa pelos outros. Ela deve ter uma vida triste, pensei.

Absorto por poucos segundos nesse pensamento, um arrepio correu pela espinha. Nem nos shows que eu já tinha visto, ela estava tão brincalhona. Já estava preparado para a letra cantada fora do ritmo, uma espontaneidade (por assim dizer) que todos deveriam estar preparados antes de dizer que ela erra as letras. De fato, ela errou na segunda parte da minha música favorita, Wake Up Alone, mas nada absurdamente grave. Analisando friamente com Byra depois, vimos que enquanto Janelle era preocupada em contar uma história, com todos os artifícios teatrais e coreográficos possíveis, Amy por sua vez aposta na naturalidade, mesmo que ela cante do jeito e no ritmo que ela quer; suas letras são íntimas, sentimentos que todo mundo já deve ter tido, e ela demonstra isso nas suas performances (dependendo do humor, claro). Longe de querer comparar as duas como cantoras ou pessoas, mas são duas formas distintas de se apresentar um show. Ambas, naquela noite, foram igualmente prazerosas.

Saímos do lugar antes do bis, com as pernas extremamente doloridas. Quando ela voltou, estávamos no meio do povo, onde havia espaço. Tinha até estranhado a falta de Love is a Losing Game, mas bem a tempo para a última canção. Algum tempo de descanso, chegamos por volta das 2h na rodoviária e cochilei aos tropeços até as 5h. Apesar do cansaço pós show e viagem, e do arrependimento de não ter procurado uma excursão, foi um dia perfeito. E tomara que ocorram mais shows ótimos por aqui.

domingo, 2 de janeiro de 2011

As Músicas de 2010

Desde ano passado eu fico viciado em listas de melhores do ano, quando vi o álbum de Florence + the Machine em praticamente todas as listas e acabou sendo a melhor coisa que me aconteceu no final de 2009, e até agora. Por volta de uma dezena de listas depois, fiz uma playlist de 25 horas de duração e escutei pacientemente. Muitas das músicas aqui citadas não vem de álbuns que gostei 100% neste ano, mas conseguiram marcar uma época, um estado de espírito, uma lembrança, seja boa ou ruim. Acredito que esse é o papel da música, além de divertir.

Antes de começar, um esclarecimento rápido: esse ano foi marcado por um grande e (meio) traumático break-up, então uma parte das músicas é de revolta, ou fossa mesmo. São 15 músicas, o que confere uma mini playlist, então divirtam-se.

15. Kate Nash - Don't You Want To Share The Guilt?
Álbum: My Best Friend Is You (escute) (video)
Difícil me decidir se essa canção foi oportuna ou extremamente cruel para o momento que estava passando. Tinha acabado de terminar o relacionamento, coincidindo com o mês do meu aniversário (que é sempre precedido de um momento de crise existencial). Daí vem Kate Nash, que já tinha várias músicas sobre relacionamentos ruins, ou que nem chegaram a ser, com uma música vulnerável sobre problemas que não podem ser resolvidos. Insegurança, tristeza de algo que deveria dar certo, mentes hiperativas e/ou problemas mentais. Acertou em cheio.
"thinking is one of the most stressful things i've ever come across"

Janelle Monáe - Cold War .14
Álbum: The ArchAndroid (Suites II and III) (escute) (video)
Estando vulnerável diante de toda a pressão do mundo é um padrão que começo a identificar nas músicas que escuto. Infelizmente conheci essa música bem depois de todo o drama, porque o processo de cicatrização seria bem mais rápido. Janelle aqui encarna uma robô que tenta se convencer que não está errada, interprete como um amor dito impossível ou as pressões da indústria da música. De qualquer forma, é daquelas músicas pra cantar alto e espantar os maus sentimentos, ainda mais que (se você estiver escutando o álbum) depois vem a ótima Tightrope, para dançar sem a menor vergonha.
"i'm trying to find my peace. i was made to believe there's something wrong with me"

13. Rufus Wainwright - The Dream
Álbum: All Days Are Nights: Songs for Lulu (escute) (video)
Essa foi a facada final. Não bastasse lidar com a insegurança e vulnerabilidade, ainda vem a frustração de todo o desejo que um "sonho" fosse realizado, mesmo que esse sonho não fosse seu de verdade. E é apenas uma música num dos álbuns mais intimistas que já escutei. Adicione o piano e a voz matadora de Rufus e você tem um representante (ou refúgio) de qualquer decepção que virá pela frente. Calma, as músicas felizes estão chegando.
"i truly loved, which is harder to do than to dream of"

Robyn - Indestructible (Acoustic Version) .12
Álbum: Body Talk Pt. 2 (escute)
Sensação de fila andando por aí? Mais ou menos. Estar "pronto pra outra" é um sentimento que inevitavelmente vem em algum momento, junto com a bravura de encarar o amor-ou-o-que-seja outra vez, mesmo que não seja muito esperto. Escutei o Body Talk algumas semanas atrás (não estava na vibe eletrônica) e me identifiquei de cara com esta canção, e a versão acústica a deixa muito mais franca e íntima que a original.
"i'm gonna love you like i've never been hurt before"

11. Sia - Clap Your Hands
Álbum: We Are Born (escute) (video)
Poderia colocar mais de uma música do We Are Born aqui, mas essa música é uma boa representante do que Sia fez comigo nesse ano. Ao lado do Lungs, com certeza foi o álbum mais escutado (e cantado), e olhe que desliguei o Last.fm várias dessas vezes. Refrão pegajoso, mais a vontade de aproveitar as coisas boas da vida e a sensação de que não devemos desperdiçar a chance. Acertou em cheio, e positivamente.
"shake me out of my misery, oh oh oh"

Mark Ronson & The Business INTL - Bang Bang Bang .10
Álbum: Record Collection (escute) (video)
O retrô veio com tudo, mas poucos executaram tão bem como Mark Ronson. Bem, o álbum é um tanto irregular, mas Bang Bang Bang reúne o melhor do mesmo. Música e clipe extremamente viciantes que deixaram o ano mais divertido. Comentário gay: Mark nesse vídeo hein? nassa!!
"the stories in your head, that's what got you dead"

9. M.I.A. - XXXO
Álbum: /\/\ /\ Y /\ (escute) (video)
M.I.A. foi uma das revelações desse ano. A partir dessa música, conheci o trabalho dela em menos de uma semana (geralmente há uma pausa entre um álbum e outro, para processar). MAYA é um álbum discutível sobre a bagunça que a internet pode ser, muito bem representado pela maquinaria instrumental que ela usou. XXXO não é diferente, apesar de ser a música mais acessível desse álbum. Assim como Cold War de Janelle Monáe, pode ser interpretado como as pressões de um amor complicado ou da indústria da música; ah, e numa geração de iphones e downloads. Não sei se a última opção se encaixa, mas se tratando de M.I.A. é bem possível.
"you want me be somebody who i'm really not"

of Montreal - Famine Affair .8
Álbum: False Priest (escute) (video)
Outro representante justo de um dos álbuns mais divertidos desse ano. Kevin Barnes ataca mais uma vez com suas acidez e frases de efeito, num clima mais divertido (como ele consegue?) e pop. A música é um insulto claro para alguém que o destrói, sabota, sufoca, e por aí vai. Alguma dúvida do porquê essa música estar aqui?!
"go away, go away, go 'way, go 'way"

7. Laura Marling - Goodbye England (Covered In Snow)
Álbum: I Speak Because I Can (escute) (video)
Depois de muita diversão, um pouco de introspecção. Laura "possui um inegável talento pra escrever sobre o amor. Um amor jovem, com franqueza e sentimento autêntico e admirável. São músicas Folk-Rock, um tanto melancólicas e com alguns pedaços 'de parar o coração'.", como disse gpoulain. Ela também foi responsável por minha fase unplugged que durou alguns meses, coincidindo com a fase de reflexão, quase insuportável de tão doída; porém necessária para as resoluções que vieram depois. Bom, complicado escolher uma música de um álbum tão perfeito, mas resume bem o poder que as músicas dessa moça têm sobre mim.
"it's good to hear that you believe in love, even if set in fear"

Everything Is Made In China - Held Back Clapping .6
Álbum: Automatic Movements (video)
O álbum é de 2009 mas teve grande destaque esse ano. Apesar da letra indicar um recomeço depois de fazer tudo errado, essa música me traz um sentimento que só sentia no primeiro álbum do Coldplay (talvez no X&Y também), algo com a melodia que não consigo expressar. Enquanto isso, o clipe é hipnótico e um dos melhores que já vi.
"no way out, no way in. time is up, need to begin"

5. Joanna Newsom - No Provenance
Álbum: Have One On Me (escute) (video)
Ainda no clima de reflexão, descubro o trabalho de Joanna como um dos mais citados em listas desse ano, e bem merecido. Lirismo, harpas, letras extensas e míticas são predominantes em um álbum de duas horas de duração, irresistível para uma segunda audição. Ao mesmo tempo que relaxa pela melodia repetitiva, essa música é um tanto confusa pelo uso de metáforas. Representa o conforto de estar com alguém, aliado a um sentimento de diminuição e desejo de desprendimento, como se estivesse preso a uma situação. Sentimento esse bem recorrente e muito bem interpretado.
"i burned safe and warm in your arms, your arms, in your arms"

iamamiwhoami - t .4
Single (video)
A estréia de 2010. Jonna Lee fez mistério, com trabalhos extremamente delicados e que só me lembravam críticas ao consumo (principalmente no clipe de 'n'). Seus vídeos eram longe de serem previsíveis e ainda renderam um concerto ao ar livre, cuja sensação só havia sentido no concerto visual do The Knife, mas de uma forma totalmente diferente. Ninguém sabe o que será do projeto, mas não acredito que um trabalho de tão alto nível como esse acabe por aí. Acabei falando mais da artista que da música, mas confiram e entenderão.
"we raise our children to the beat of this comforting, bonding love"

3. Arcade Fire - The Suburbs
Álbum: The Suburbs (escute) (video)
Esse é daquele tipo de música que te dá saudade de um tempo que, se você não viveu, gostaria de ter vivido pra poder ter saudade. O álbum inteiro é ótimo, mas The Suburbs ganhou minha atenção de cara, interpreto como quase um hino para uma geração que presencia um mundo inteiro mudando completamente, perdendo a beleza que tinha durante a infância. Não sei o quão planejado esse álbum foi ao acertar nesse tema, mas de qualquer forma o Arcade Fire ganha meu respeito ao retratar tão bem.
"i wanna hold her hand and show some beauty before the damage is done"

Sufjan Stevens - I Walked .2
Álbum: The Age of Adz (escute)
Deixando de lado o tom de despedida e término de relacionamento que essa canção traz (óbvio demais), ela me toca por ter um lado muito mais confessional de Sufjan, assim como o álbum inteiro. O arrependimento aqui é muito sincero, para aqueles dias de reflexão infinita, ainda mais se seguido por Now That I'm Older.
"i should not be so lost, but i got nothing left to love"

1. The National - Bloodbuzz Ohio
Álbum: High Violet (escute) (video)
Também acompanhando as listas, marquei meu reencontro do The National. Há dois anos, um amigo tinha me indicado o álbum Boxer; escutei umas duas vezes e deixei de lado. Como?!?! A voz matadora do vocalista é apenas um catalisador para todo o clima de melancolia abordado nas canções, e de forma ainda mais pesada no último álbum. Eu poderia dizer apenas que essa canção me derrete, mas é muito pouco. Ela me tritura enquanto sinto aquela agitação, como se estivesse me debatendo no colchão; enquanto a letra conta a culpa de que nada paga o amor de um lar, mesmo que a sensação de voltar para o mesmo não seja tão confortante.
"i never thought about love when i thought about home"

Esclarecimento #2: Adele poderia estar nessa lista, mas como o álbum dela tem tudo pra ser um dos melhores desse ano novo, fica como menção honrosa. Rolling In The Deep (escute) (vídeo)