sexta-feira, 5 de novembro de 2010

everybody has its thorn

A chegada da minha prima maluquinha coincidiu com mais um problema de família. Meu tio-avô veio pra cidade muito mal de saúde, tinha sofrido um ataque de escorpião na perna e ainda assim passou quase uma semana trancado em casa. Não me peçam pra explicar como funciona esse pessoal do interior. Evidente que estava tarde demais pra tratar e tiveram que amputar a perna atingida, na altura da metade da coxa. Como ele morava sozinho, minha avó materna se comprometeu a cuidar dele enquanto os filhos (que moram fora) dele arrumavam uma condição melhor.

Ele poderia ter familiares na cidade onde morava, mas não tem. Segundo informações antigas, ele tinha se separado da mulher numa relação bastante conturbada, havia até facas envolvidas. Aliás, esse senhor ganhou uma fama de ser estupidamente ignorante e, realmente, ele é bem Seu Lunga, apesar de talvez eles não se conhecerem. Um dos filhos dele, Elion, chegou assim que pôde e se encarregou de arrumar os pertences dele. Elion e minha mãe foram grandes amigos de infância, o que rendeu ótimas histórias dos tempos da disco (eu já disse que gostaria de viver aquela época, né?).

Enfim, histórias não faltaram quando o primo de segundo grau voltou com o que podia trazer. Porque sabe-se que a casa estava podre, digna de alguém que não sabe se cuidar sozinho. Sabe-se também que todas as noites eram agitadas por lá, o resto eu só assumi, pois não queriam que minha avó soubesse dos detalhes. Fato foi que ninguém daquela cidade o visitou, "um milhão de amigos" como ele falou, e ironia tal que minha mãe fez questão de repetir várias vezes.

Minha avó então ficou na situação de hospedar duas pessoas (meu tio-avô e minha prima), o que pra alguém que está acostumada a viver sozinha numa casa pequena é bem difícil. Minha prima então passou a maior parte do tempo ajudando-a, aproveitando muito pouco das férias. E ainda aguentando (leia: se irritanto e revidando) os desaforos do Seu Lunguinha. "ô velho abusado". Deu até pena dela, acabou levando muita coisa a sério.

Aliás, outra história bem antiga sobre o "velho" foi que ele namorou por muito tempo uma moça da cidade e, eventualmente, perguntaram sobre esse namoro. "gosto de negro não". Pra quem veio de raízes indígenas, é até estranho; mas como ele lidaria comigo e minha prima? hmm. Na segunda vez que fui vê-lo, ele perguntou "tá tudo bem com meu filho?" duas vezes, e depois perguntou se eu tinha quinze anos (oi?), gargalhei por dentro. Essa semana, quando me viu, falou bem alto "meu filho chegou! [apertando a mão e dando beijo] quero tanto bem a meu filho...", olhei em choque pra minha mãe, eu não fiz nada pra isso ok gente?

O bom é que ele está se recuperando rápido, além de ter uma força de vontade grande, o que já o fez se virar na cadeira de rodas. Sempre tem discussão entre ele e minha avó, duas crianças teimosas que garantem os momentos de humor; e cenas wtf, como quando ele foi urinar no mictório, com a porta de casa aberta (pra rua) e virado pra fora (meu cérebro explodiu). Minha avó reclama do cansaço e de ter que lidar com as visitas da família e as necessidades dele. Quase todo dia minha mãe vai lá ajudar. Os filhos já estão procurando uma casa por perto pra ele morar.

Só pra não dizer que nada acontece na minha vida. E olhe que tem novidades ruins aqui em casa, tá fácil não.

Um comentário:

Thay Gomez disse...

Amigo, o lugar que você preencher com fé e força, não abrirá espaço para qualquer outro tipo de sentimento.

Concentre-se nisso. E nas pessoas que fazem seu ♥ sorrir!!!

=*