quinta-feira, 15 de julho de 2010

so if you ever feel neglected

Um dia, creio que há mais de um mês, eu tive um pesadelo. Eu estava na sala e lembro que havia bastante gente ao redor, como se fosse o pessoal que mora comigo em casa, mas eu não consegui ver. Foi muito rápido, e a única coisa que me lembro era eu gritando e esbravejando contra meu pai, que estava perto da porta, e eu sentia o clima pesado de discussão no ar. Quem me conhece, sabe que pra eu discutir sério com alguém é preciso um motivo muito grave. Na situação que estava, considerei o pesadelo irrelevante, apesar de sentir a raiva que estava durante o acontecimento imaginário.

Há algumas semanas, meu avô passou mal quando estava chegando em casa; teve uma crise de pressão alta e hiperglicemia. Minha mãe ligou pro meu pai, dizendo que se estivesse na cidade, fosse em casa pra ajudar (a empresa em que ele trabalha está a alguns poucos quarteirões de casa). Em menos de dez minutos, ele apareceu, talvez a primeira (no máximo, segunda) vez que o vi esse ano. Apesar da agonia que foi ver meu avô desacordado, não deixei de pensar nas várias vezes que meu vizinho dizia tê-lo visto perto de casa, mas ele não aparecia. Não digo nem por mim, mas pelo menos pra visitar a mãe, dizer se está bem. Enfim.

Já nessa semana, estava saindo pra ir à universidade e, quando abro a porta, vejo ele conversando com minha irmã no terraço. Me perguntou onde eu ia, respondi. No dia seguinte, quando vou à cozinha tomar café, ele está na sala. Sentei no outro sofá pra tomar o café, assistindo tv. Ele comentou uma ou duas frases curtas sobre o que estava passando na tv, como se o clima favorecesse. Depois, fui varrer a casa e ele saiu, dizendo que talvez voltasse pro almoço, e me deu um beijo inesperado no rosto.

Hoje estava vendo Six Feet Under quando minha avó me chamou; só estávamos eu, ela e minha sobrinha em casa. Estava procurando uma caixa que ele tinha deixado com minha irmã, pra ela entregar à minha avó. "Tô procurando a caixa aqui pra te mostrar, a covardia que teu pai fez". Era uma caixa de presente, com produtos de beleza e uma carta bem decorada, no nome de uma mulher.

Li a carta pra ela. Em resumo, desde que saiu de casa, ele está vivendo com essa mulher numa cidade do interior, ela tem duas filhas de outro casamento e elas o consideram um pai. Ela diz que eles já se conheciam há muito tempo e que chegaram a se separar, foi quando ela teve as filhas. Disse que o amava muito, e que não queria que considerassem ela a razão do fim do "casamento" deles. Enfim, várias outras coisas que doeu ler, e estou processando ainda.

Afinal, eu não culpo essa mulher de nada, sinceramente. Não culpo as filhas por quererem algum referencial, um apoio. Mas faz quase seis anos que houve a traição (no momento, era com outra mulher que morava perto de casa, que tinha filhos também), mais de quatro anos que ele sumiu e qualquer um de casa raramente o vê, depois de muitas discussões que tive de escutar e que ele não falava nada. Por muito tempo achei que tivesse alguma relação com o fato de eu ter me assumido pra ele, e que nunca se sabe se é verdade mesmo. Isso tudo, anos, pra deixar uma carta que nem ele escreveu, e ir embora novamente, como se não tivesse nada a explicar. Que tipo de pessoa é essa que não enfrenta os próprios problemas?!

Se eu for dar mais moral aos meus insanos pensamentos, que ultimamente não param, eu posso parar anos atrás, quando me comportava bem, tirava boas notas pra ter atenção, pra ele sempre dar atenção aos filhos dos outros (e garanto que não era impressão minha). O diálogo que nunca aconteceu, a atenção que pouco tive, pra depois tentar me 'comprar' com uma mensagem gravada nos dias do meu aniversário... Me sinto tão negligenciado (pra não dizer rejeitado), queria poder gritar. Agora toda a raiva que tive no pesadelo faz sentido. Parece a única coisa a fazer sentido agora. Se encontrar um sentido fosse fazer diferença... unf.

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Um comentário:

Thay Gomez disse...

Cara, meio complicado comentar sobre isso porque também tenho minhas cotas de raiva do meu, mesmo que nada chegue perto do que você está passando.

Não sei o que dizer, mas estou aqui quando precisar, tá? =**